Envelhecer, para bem viver #3 | A comunidade como contexto privilegiado para viver e envelhecer

O envelhecimento da população à escala global é um fenómeno relativamente recente, mas que exige a introdução de mudanças de relevo ao nível social, económico e político. Com efeito, a revolução demográfica a que assistimos, fortemente marcada pelo aumento progressivo da população idosa e pelo seu significativo envelhecimento, exige uma nova abordagem perante este grupo etário.

 

Sendo Portugal um território francamente envelhecido (quer em termos de envelhecimento individual, quer em termos de envelhecimento populacional/demográfico), a grande maioria dos idosos continua a residir nas suas habitações, sendo, portanto, fundamental promover o aging in place (envelhecer em casa).

 

Para o fazer, a investigação tem demonstrado que os idosos consideram necessária a criação de condições que permitam a manutenção de uma participação ativa na comunidade, a promoção da sua independência e autonomia, bem como a redução do risco de isolamento (social). Trata-se de criar "elder-friendly communities" (Feldman & Oberlink, 2003), isto é, comunidades promotoras e acolhedoras para os idosos. Estas comunidades devem, assim, centrar-se em quatro aspetos:

 

(1) Referenciação das necessidades básicas dos idosos;

(2) Otimização da saúde mental, física e bem-estar;

(3) Promoção do compromisso social e cívico;

(4) Maximização da autonomia independentemente do seu nível de incapacidade, desenvolvendo, para cada área, atividades de acordo com as necessidades e capacidades dos idosos.

 

A literatura (e.g., Bastos, Monteiro, Faria, Pimentel, Rosas-Silva & Afonso, 2020) demonstra ainda que manter uma vida social intensa contribui para o aumento da qualidade de vida e da longevidade das pessoas mais velhas, sugerindo assim que os relacionamentos sociais são fatores importantes para o bem-estar físico e mental dos idosos. Interagir socialmente e manter-se integrado na comunidade permite a construção e reforço de laços sociais e favorece o bem-estar físico, psicológico e social.

 

Neste sentido, a promoção de um Envelhecimento Ativo é fundamental! Este conceito foi adotado pela Organização Mundial de Saúde no final dos anos 90, tendo sido revisto em 2015 pelo Centro Internacional de Longevidade do Brasil. Neste documento, o conceito é definido como o processo de otimização de oportunidades para a participação, saúde, segurança e aprendizagem ao longo da vida, que visa melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que se desenvolvem e envelhecem.

 

O conceito assenta, assim, numa visão positiva e holística do envelhecimento, quer em termos individuais, quer em termos societais e pretende promover o desenho de políticas e iniciativas que incentivem as pessoas a manterem-se ativas durante tanto tempo quanto possível.

 

Importa, no entanto, ter presente que manter-se ativo é mais do que realizar atividade física ou comprometer-se com uma vida profissional mais longa; diz antes respeito a uma participação continuada em questões culturais, cívicas, sociais, económicas e espirituais. Neste sentido, a responsabilidade de promover o envelhecimento mais ativo da população recai não apenas no Estado, mas também na Sociedade Civil.

 

São, por isso, necessários serviços e profissionais especializados que se foquem especialmente na promoção do bem-estar integral das pessoas mais velhas, criando condições para que possam efetivamente continuar a envelhecer em casa, com qualidade de vida.

 

Mais ainda, face à pandemia Covid-19, é (ainda mais) urgente criar condições para que a população mais velha possa continuar a viver em casa. É necessário garantir cuidados de proximidade e aumentar o contacto com profissionais especializados (sobretudo os Gerontólogos) no sentido de permitir que possam continuar a viver com saúde e realização/valorização pessoal em contextos que os mantenham protegidos e, que simultaneamente, representem uma fonte de estímulo, de reconhecimento e de uma vida com sentido.

 

Por, Raquel Gonçalves
Prof.ª Adjunta Convidada, Instituto Politécnico de Viana do Castelo