Envelhecer, para bem viver #2 | Estou reformado! E agora?

Assistimos, atualmente, nas sociedades contemporâneas, a uma representação social das pessoas de acordo com a sua idade cronológica, isto é, balizamos o ciclo de vida em três etapas: juventude, idade ativa e reforma.

 

Somos desafiados pela comunidade a desempenhar papeis distintos consoante a idade, porém esta segmentação traz novos desafios para as gerações futuras.

 

Reconhecendo a reforma como um acontecimento importante que marca a passagem da vida ativa para a vida inativa, é imperativo que esta não seja sinónimo de perda, incapacidade ou inutilidade.

 

No livro intitulado “Um Tempo sem Idades” (2020), Maria João Valente Rosa refere que “quando a reforma chega, existe frequentemente um sentimento de libertação do empregado e do empregador. Mas será legitimo deduzir que, com isso, muitos dos reformados gostariam de deixar de ter um papel ativamente reconhecido na sociedade e no mercado de trabalho?” (p. 75).

 

Evidentemente que as opiniões se dividem e o tema pode gerar alguma controvérsia. No entanto, o processo de transição para a reforma, apesar de apresentar benefícios, também implica perdas, sobretudo em termos de rotinas, hábitos, lugares familiares e relacionamentos, provocando, muitas vezes, sentimentos ora de frustração, ora de tristeza.

 

Porém, a necessidade de preparação da transição da vida ativa para a reforma, implica educar/preparar as pessoas para esta nova fase da vida, sendo este um grande contributo para o tão desejado envelhecimento ativo. No entender de Bueno, Vega e Bus (2004), uma boa preparação para a reforma, “ajuda a enfrentar os problemas de saúde, económicos, sociais e a organização global de toda a vida”, sendo que esta nova fase pressupõe uma “reorientação e organização dos hábitos de vida diária” (p. 432).

 

Esta preparação para a reforma implica abordar temas como: o processo de envelhecimento, mudança de atitudes, hábitos e estilos de vida saudáveis, processos de adaptação social (em família e na comunidade), possibilidades e melhores formas de gestão do tempo disponível, alterações na economia pessoal e doméstica, aspetos jurídicos interessantes para as pessoas mais velhas, tipos e modalidades de apoio existentes para a velhice e atividades de lazer e culturais.

 

Será que reconhecemos a importância da transição para a reforma como continuidade de traçar objetivos futuros? Qual o significado que atribuímos a este acontecimento de vida?

 

Em Portugal, empresas e instituições não estão dispostas a contribuir para a preparação da reforma. É impreterível criar estratégias, nas áreas política e social, para que as pessoas mais velhas possam experimentar a velhice de uma forma positiva.

 

Ser mais velho não significa perda de objetivos, e a reforma não tem de ser considerada um momento stressante, sinónimo de perda de prestígio, exclusão social, abandono da atividade profissional e passagem para o estatuto de idoso. Pelo contrário, a reforma pode propiciar a reformulação de objetivos de vida, sensação de dever cumprido, reforço das redes de amigos e enriquecimento do bem-estar físico e emocional das pessoas.

 

Artigo escrito por Sara Duarte
(Instituto Politécnico de Viana do Castelo)